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Crescimento, trabalho e inflação


Data: 13 de agosto de 2013
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Nos anos de 2012 e 2011 o PIB brasileiro apresentou uma taxa de crescimento média de 1,8%, número inferior às estimativas de PIB potencial que o mercado avalia estar entre 2,5% a 3,5% para os próximos anos. No entanto, um ponto pouco questionado é a dinâmica do emprego neste período. Afinal, se a economia cresce abaixo do seu potencial, seria natural observar uma elevação da taxa de desemprego resultante da elevação da ociosidade na utilização dos recursos da economia. No presente artigo, procuramos fazer uma breve análise sobre as causas de tal dinâmica e as implicações para o mercado de trabalho nos próximos anos. Nossa proposição sugere que para um mesmo nível de crescimento médio em 2013 e 2014, quando comparado aos dois últimos anos, será observado um impacto distinto sobre a taxa de desemprego dada a composição do PIB menos concentrada no setor de serviços, que, por sua vez, é mais intensivo no fator trabalho.

 

O comportamento da expansão econômica agregada pode esconder dinâmicas diferenciadas entre os setores de serviços, indústria e agropecuária com consequências distintas sobre o desemprego. Para tanto, um simples exercício econométrico, com modelos da classe VAR, realizado internamente na Maua Sekular Investimentos levou em conta a relação histórica entre as taxas de crescimento trimestrais dos três componentes do PIB e o crescimento da população ocupada - os dados trimestrais são do IBGE de 2003 a 2013 e tratados para a extração dos componentes sazonais. Uma vez obtido o modelo, foram estimadas as respostas do crescimento da população ocupada a impulsos gerados nos três segmentos do PIB, controlando pelo tamanho de cada um dentro da economia. Ou seja, calculamos o impacto que cada segmento da economia tende a ter sobre o mercado de trabalho, para um mesmo nível de contribuição no crescimento econômico.

 

Os resultados obtidos apontaram que choques no crescimento dos serviços, indústria e agropecuária que contribuam com um crescimento de 1 ponto percentual do PIB geram um crescimento acumulado da população ocupada nos 4 trimestres subsequentes de 0,5 pp, 0,1 pp e 0,3 pp, respectivamente. Ou seja, as evidências empíricas sugerem que para gerar um mesmo nível de crescimento, o setor de serviços necessita de mais trabalhadores. Em outras palavras, o setor de serviços é menos produtivo sob este ponto de vista.

 

Um aumento moderado do desemprego traz um alívio para os custos das empresas, gerando ganho de produtividade

Uma vez feita essa constatação, foi possível inferir quais devem ser as implicações para o mercado de trabalho num contexto que aparenta ser o mais provável para 2013 e 2014, em vista das informações disponíveis até o momento: de um lado uma desaceleração mais intensa do segmento de serviços em função de condições financeiras mais apertadas, alto endividamento dos consumidores e consequente redução da confiança do setor. Do outro, a gradual recuperação da demanda internacional, aliada a um câmbio mais depreciado, tende a gerar um crescimento mais expressivo da indústria quando comparado aos últimos dois anos.

 

Assim, nossas projeções pressupõem crescimento do PIB industrial médio de 2,7% em 2013/14 ante 0,4% em 2011/12. Já em relação ao setor de serviços, a projeção de crescimento para os próximos dois anos é de 1,6% ante 2,2% no biênio anterior. Tal dinâmica, apesar de gerar um crescimento médio de 2% nos próximos dois anos, tende a elevar a taxa de desemprego, que hoje se encontra em 5,8% para 7,3% no fim de 2014.

 

Uma desaceleração mais expressiva do mercado de trabalho pode também ter implicações para a dinâmica inflacionária no médio prazo, uma vez que, apesar das taxas de crescimento muito similares do PIB nesse período, a menor utilização do fator trabalho aumentaria o poder de barganha dos empresários nas negociações salariais, reduzindo assim, as pressões salariais inflacionárias. Colocando o argumento em números, nossa projeção para a inflação dos preços livres do IPCA - aqueles mais suscetíveis a flutuações da oferta e demanda na economia - cai de 7,55% em 2013 para 5,4% em 2014. A desaceleração dos preços ao consumidor em 2014 não deve ser significativa por conta da dinâmica dos preços administrados, cuja taxa de inflação em 2013 deve ser atipicamente baixa dada a redução dos custos da tarifa de energia elétrica residencial, entre outros. Assim os preços administrados devem acelerar de 1% em 2013 para 5,5% em 2014, resultando num IPCA de 5,8% em 2013, caindo para 5,5% em 2014.

 

É válido ressaltar que, no médio prazo, um aumento moderado do desemprego, que hoje se apresenta abaixo da neutralidade, traz um alívio para os custos das empresas gerando algum ganho de produtividade. Consequentemente pode aumentar a atratividade de investimentos para a economia.

 

Com as evidências empíricas apresentadas acima, trazemos a discussão de que o crescimento potencial da economia deve levar em consideração a composição do PIB para que a dinâmica do mercado de trabalho resultante faça sentido econômico. Afinal, se crescemos abaixo do PIB potencial nos últimos anos, por que o desemprego não se elevou? Em nossa visão, condicionar o crescimento à sua composição é parte relevante da resposta.

 

Fontes: Alessandro del Drago é economista chefe e sócio da Maua Sekular, é mestre em economia pelo Insper.

Luiz Fernando Figueiredo, economista, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, é sócio da Mauá Investimentos

 

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