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O rombo do Carrefour e o tombo da Deloitte


Data: 6 de dezembro de 2010
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Existe uma expressão popular que preconiza “Nada é tão ruim que não possa piorar”. Esse ditado, de certo modo, sintetiza o caso de duas empresas conhecidas dos brasileiros: Carrefour e Deloitte.

Em meados deste ano, a rede varejista, auditada pela Deloitte, anunciou que havia descoberto um rombo de R$ 185 milhões na filial brasileira. Na semana passada, veio a bomba: o prejuízo é na verdade sete vezes maior: R$ 1,2 bilhão.
 
A Deloitte, por sua vez, viu novamente sua credibilidade ser abalada. Há menos de um mês, o Banco Central descobriu um rombo de R$ 2,5 bilhões na contabilidade do Banco PanAmericano, que também era seu cliente.
 
Mais: de acordo com o jornal britânico Financial Times, Arnold McClellan, ex-sócio da consultoria nos Estados Unidos, teria vazado informações confidenciais sobre fusões planejadas por clientes da consultoria.
 
Na terça-feira 30, Lars Olofsson, presidente mundial do Carrefour, reuniu os analistas de mercado para falar sobre os desdobramentos, para pior, do escândalo.
 
A descoberta da nova cifra fez o dirigente subir o tom. Durante o encontro, ele garantiu que iria tirar toda a sujeira debaixo do tapete: “Nós estamos determinados a fazer o que for preciso para chegar até o fundo do que eu chamo de má gestão”, disse Olofsson, referindo-se ao período no qual a filial foi comandada pelo francês Jean Marc Pueyo.
 
O discurso duro se deve à importância estratégica do Brasil dentro da corporação. Os R$ 25,6 bilhões faturados aqui, em 2009, representam 11% das vendas globais da rede. Por conta disso, Olofsson descartou a possibilidade de venda da filial. Isso, porém, não foi o bastante para acalmar os investidores.
 
Um dia após a conferência, as ações da companhia chegaram a cair 8,35% na Bolsa de Valores de Paris. É que a perda no Brasil terá impacto direto no lucro do Carrefour. Procurada pela DINHEIRO, a Deloitte se limitou a enviar um comunicado no qual defende o trabalho feito por seus auditores.
 
O caso Carrefour, no entanto, põe em evidência a seguinte questão: como é que em apenas 18 semanas a KPMG enxergou algo que a Deloitte não viu em cinco anos? “A fraude contábil é um processo que envolve diversos profissionais. Dificilmente um rombo dessa magnitude passa despercebido em um processo independente de checagem”, argumenta Marcos Assi, coordenador do MBA de gestão de riscos e compliance da Trevisan Escola de Negócios.
 
“Eles tiraram a laranja podre do cesto. Agora, é preciso ir além e mudar os mecanismos de controle da empresa”, completa Assi.  Segundo fontes da subsidiária, essa é exatamente a tarefa de Luiz Fazzio – o novo homem forte do Carrefour Brasil, que assumiu o posto no final de julho.
 
Amandine Cuinet, porta-voz da matriz do Carrefour, afirma que a principal cartilha do executivo serão as posturas definidas pelo Comitê de Ética e incluídas no código de conduta, recém-elaborado. “Em setembro, a companhia definiu novos processos de auditoria interna que têm de ser seguidos por todo o grupo”, diz ela à DINHEIRO.
 
Com passagens por C&A e Pão de Açúcar, Fazzio é tido como um gestor implacável. “Ele busca resultados positivos a qualquer custo e não se importa em eliminar benefícios ou demitir pessoas”, conta um profissional que trabalhou com ele. As primeiras vítimas foram quatro diretores que atuaram na gestão Pueyo.
 
Para entender o imbróglio do Carrefour é preciso conhecer algumas especificidades do mercado varejista brasileiro. Na gestão Pueyo, os números do balanço foram inflados graças a manobras contábeis em duas vertentes: estoques das lojas e bonificações recebidas dos fornecedores.
 
No início do ano, o Carrefour fazia um planejamento prevendo os descontos que iria conseguir com os fornecedores. Só que, ao longo do ano, o montante não era confirmado e, mesmo assim, o valor inicial era lançado na contabilidade gerando uma receita artificial. Sem contar que muitas vezes os estoques não eram atualizados. Além disso, o rombo  inclui provisões para cobrir ações trabalhista.
 

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