O auditório do CRCSC (Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina) recebeu nos dias 22 e 23 de agosto, em Florianópolis, o 4° Seminário Catarinense de Perícia Contábil. Com o tema: O perito contábil e a pluralidade de seus conhecimentos, o evento teve como objetivo contribuir com a atuação do profissional no mercado de trabalho.
Na cerimônia de abertura, o coordenador da Comissão de Estudos e Normatização de Perícias do CRCSC, Ranieri Angioletti citou a implementação do cadastro nacional de peritos contábeis pelo Sistema CFC/CRCs e a importância da educação contínua destes profissionais. “Como entidade de representação queremos cada vez mais profissionais aptos para atender as demandas da sociedade, permitindo criarmos novas possibilidades e caminhos”.
Já o contador e presidente do CRCSC, Marcello Seemann, destacou aspectos da contabilidade catarinense e convidou os presentes para o 21º Congresso Brasileiro de Contabilidade. “Durante a história deste Conselho é a primeira vez que acontece um congresso nacional de Contabilidade em Santa Catarina e conto com a presença de todos vocês em novembro de 2020 para representarmos a categoria do Estado em Balneário Camboriú”.
Em nome do Conselho, Seemann agradeceu a todos os palestrantes e enalteceu a relevância da profissão nos dias atuais. “A Contabilidade tem mostrado sua relevância diariamente em nosso país. E prezar pela ética e pela transparência profissional é algo que está no DNA desta casa e também de todo contador e perito contábil”, disse.
O encontro é promovido anualmente pelo CRCSC com participação de especialistas de diversas regiões do país. Neste ano, o seminário contou com oito painéis que debateram questões relacionadas à de perícia.
Conta Corrente e cartões
O perito judicial e autor de livros de perícia contábil, Remo Dalla Zanna foi o responsável pelo primeiro painel das discussões técnicas do evento. Ele apresentou e detalhou questões referentes à perícia contábil em conta corrente garantida (cheque especial), tarifas, empréstimo, juros e cartão de crédito.
Remo destacou: “O perito não pode ser envolvido nem pela argumentação do autor, nem do réu. Ele precisa seguir o rumo certo sem comprometer o resultado. Não há espaços para contradição naquilo que vai para meu laudo”. Ele ainda salientou as diferenças nomenclaturas de contratos “por adesão” e “de adesão”.
Sistemas de Cálculos em Operações financeiras
A segunda palestra do Seminário foi ministrada pelo professor em cursos de graduação, MBA, mestrado e doutorado, José Eduardo Zdanowicz que abordou os Sistemas de Cálculos em Operações financeiras.
O palestrante que publicou mais de 20 livros da área financeira forneceu fundamentos e técnicas para subsidiar os peritos que atuam na área financeira, em relação aos sistemas que são praticados no país. Ele aprofundou questões de juros, encargos financeiros e sistemas de amortização. “Os Sistemas de cálculos em operações de crédito no país dão margens a discussões que acabam gerando ações judiciais”, pontuou.
Combate à lavagem de dinheiro
O coordenador da Rede Nacional de Laboratório de tecnologia do Ministério da Justiça e Segurança Pública, César Medeiros Cupertino, que é mestre em ciências contábeis e doutor em administração, falou sobre os projetos combate à lavagem de dinheiro.
César, que também é perito da Polícia Federal há mais de 20 anos, falou sobre o desafio atual no país e das questões colaborativas, pois a rede conta com representantes em todas as unidades de federação. “O grande desafio é identificar quem são as pessoas que lavam dinheiro, o cenário em que eles atuam e como foi o modus-operandi. Este trabalho esta sendo realizado pelos laboratórios e pelos peritos estaduais e federais”.
O contador ainda mencionou à evolução normativa no Brasil e a metodologia de atuação e integração da rede nacional de Laboratório de tecnologia.
Contabilidade Forense
O perito contábil do Ministério Público Federal, Jonatas Salaberry, que particiou da atuação da operação Lava Jato e casos de repercussão na última década foi o responsável pela temática sobre dados e tecnologia na Contabilidade forense.
Jonatas iniciou sua apresentação mostrando como era feita a perícia contábil antigamente. “Desde à última década, estamos migrando para um processo eletrônico com fontes de dados de informação, que cresce quase exponencialmente. E o que fazer com enorme quantidade de dados que temos disponível? Saber manipular eles para comprovar os fatos, este é o verdadeiro desafio”.
Salaberry citou como foi o desencadeamento da operação Lava-Jato. “Era a investigação de um doleiro que mandava dinheiro para fora, e a partir daí que foi se desatando diversos nós, através de dados estruturados e não estruturados, chegando na Lava-jato”.
O professor detalhou o que seriam dados estruturados e não estruturados para os peritos e os sistemas utilizados para evidenciar tais elementos.
Diretrizes e Procedimentos
O perito contábil e autor de livros de perícia contábil e avaliação de sociedades, Martinho Mauricio Gomes de Ornelas simplificou a perícia contábil e o CPC 2015, durante sua abordagem sobre as diretrizes e procedimentos. O professor destacou “a importância de uma boa escrita e boa produção de laudo, escrevendo de maneira objetiva. Evitem os vocabulários complexos demais”, pontuou.
A apuração dos haveres de sócio, avaliando os aspectos contábeis e jurídicos foi o tema da palestra do perito contador, Nivaldo João dos Santos que também é autor e revisor de artigos para revistas nacionais e internacionais. Santos também destacou questões de coerência e ambiguidades.
Semântica e Habilidades
A professora e autora dos materiais didáticos para mestrado e doutorado das disciplinas de língua portuguesa e lógica informal, Ivana Mayrink, detalhou questões de semântica e habilidades para o laudo pericial e afirmou: “Nenhum laudo é igual ao outro. Existem centenas de estruturas, mas em dados momentos cada laudo terá sua peculiaridade”.
Durante apresentação, a especialista em escrita científica pela USP apontou ainda questões que aborda em oficinas de texto como o raciocínio analítico, a lógica formal e informal, assim como alguns princípios para uma boa comunicação oral e escrita. “Como peritos, vocês tem o desafios de simplificar algo complexo em um laudo, transformando os cálculos e o raciocínio lógico em algo abstrato e compreensível que é a linguagem”.
Ivana ainda detalhou as máximas conversacionais da comunicação jurídica e destacou diversos aspectos linguísticos de laudos periciais, exemplificando alguns casos. “Vocês explicitam nos laudos como chegaram a tais conclusões. Importante: sejam claros, lineares e evitem ambiguidades. Pensem, que vocês estão descomplicando o meio contábil para uma série de interlocutores”.
Aspectos éticos na atuação do perito
A vice-presidente de fiscalização, ética e disciplina do CFC (Conselho Federal de Contabilidade), Sandra Maria Batista falou sobre os aspectos éticos na atuação do perito e assistente técnico, e do dever de cooperação na consecução da perícia e como profissional.
Durante palestra, ela compartilhou questões gerais que identificou durante anos em ações de fiscalização de ética e disciplina do Conselho Federal. Sandra ainda apontou que “a perícia vai muito além dos autos e dos dados de qualquer processo, por isso se destaciu a importância da atuação como perito contábil”.
Ela ainda salientou aos presentes: “Tem coisas simples que estamos errando como classe contábil. Acreditem, tem mercado para todos os peritos existentes que façam o que é certo, que é entregar um produto em conformidade. Fazer perícia é contar histórias, sempre prezando pela verdade”, destacou.
Confira as fotos do segundo dia de evento
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