A profissional de contabilidade Miranda Heidrich, 93 anos, não fazia ideia de que estava à frente do seu tempo, mas já atuava no escritório do irmão mais velho na década de 1950, quando apenas 4% dos contabilistas no Brasil eram mulheres.

“Eu apenas vivi e fui atrás dos meus sonhos”, relata, saudosa, a timboense que, ainda criança, já ajudava no comércio da família preenchendo as notas fiscais dos produtos que seriam entregues pelo pai em outras cidades.

Desde cedo, ela sabia que lidar com números era a sua vocação. Tratou de se formar no Técnico em Contabilidade antes de completar 20 anos de idade e, aos 30, pegava caronas com conhecidos e caminhoneiros para se deslocar para Curitiba, no Paraná, para cursar Economia - ela foi a primeira mulher catarinense a ter a titulação de economista, na década de 1960.

Pelo seu escritório contábil, em Timbó, passaram as contas das principais empresas do município. Referência na área, dedicou 60 anos da sua vida à contabilidade. Mas, mesmo aposentada, era procurada por ex-clientes para realizar a declaração do Imposto de Renda - atividade que fazia de casa, eventualmente, até os seus 90 anos.

“Ela era reconhecida pelos clientes por ser muito detalhista, não deixava passar nada”, conta a sobrinha de Miranda, Mayke Heidrich.

Foi a atuação de mulheres como Miranda que contribuiu para que a profissão deixasse de ser predominantemente masculina. Atualmente,mulheres representam 44% dos profissionais registrados no Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina (CRCSC), ou seja, quase metade da carreira. Mas nem sempre foi assim. No primeiro ano de existência do CRCSC (1946-1947), dos 400 profissionais inscritos na entidade, apenas sete eram do sexo feminino.

Na época, a presença de mulheres ainda destoava de ambientes de estudo e laborais, como contava, quando viva, a primeira pessoa no Estado a se formar em Ciências Contábeis e a segunda mulher a obter diploma universitário em Santa Catarina, Carmem Barbosa (1899 - 2004). Ela dizia que “despertava curiosidade” e que “viajantes ficavam olhando pela grade da janela para ver a única mulher da turma”.

Dupla jornada - A profissional de Contabilidade Ondina Silveira Ballista (1928 - 2021), fez história em Chapecó dedicando 50 anos da sua vida à profissão, no serviço público. Nem sempre foi fácil conciliar a carreira e a família, e algumas vezes era necessário levar os filhos ao trabalho, como mostram registros fotográficos guardados com carinho pela família.

Em 76 anos de história, o CRCSC tem, atualmente, a segunda presidente mulher. Em palestra proferida no evento Mulheres que Transformam a Contabilidade, realizada na semana passada, na sede da entidade, Marisa Luciana Schvabe de Morais, destacou a complexidade de ser mulher no mercado de trabalho. “Por ser mulher, muitas vezes, para ser reconhecida, me esforcei mais”, avaliou.

Marisa destaca que, neste Dia Internacional da Mulher, “o CRCSC parabeniza todas as mulheres que transformam a Contabilidade, ocupando espaços na iniciativa privada, no serviço público e até mesmo na política”.